ABRA A PORTA


        Se trancando sem notar enclausurou-se em busca de si mesmo, e em seu retorno não podia mais achar a saída que diante de si estava, mesmo tendo encontrado o que procurava. Não queria mais sair talvez... Mas o que fora buscar tão longe a ponto de não se perder, de modo a distancia-se daquele acesso que lhe permitiu a introspecção que lhe enriquecera ao entrar?

      E mesmo não sendo este o seu intuito, porque permitiu desviar-se daquela trajetória que o traria de volta à porta por onde entrou, para que retornando trouxesse a tona o saber que lhe acresceu o entendimento, despindo-lhe de suas mazelas?

      Introspectivo porém não mais inerte, passa agora pelos mesmos caminhos outrora ermos hoje repleto de frondosas verdes copas, antes não vistas porém agora as claras e bem viçosas, guiado por um pleno e novo olhar, que não somente a si mostra as cores apuradas olivas verdes dessas encantadas copas, como antes não se permitia olhar, como trás em seu semblante a luz que os passos guia, aos seus pés iluminar.

      Este encontro consigo em seu lugar secreto, lhe mostrou as faces de suas estruturas, onde sendo em suas mãos colocadas as ferramentas que lhe permitissem entalhar e emoldurar, de modo a se quer arestas ou farpas deixar, o quão primorosas suas obras seriam e quanto encanto ao seu ser e às vidas ao redor trariam, abrindo-lhe muito mais que uma porta tendo em suas mãos apenas a pena, que a tantos outros por seus encantos poderia então revelar ao alto e bom tom de seu compor, declamando ao silêncio de apurados olhos que se debruçam a leitura da trajetória de suas linhas, bem como os preciosos momentos de reflexão de exigentes ouvintes em seu cantar.

        Visto que olhando para suas mãos, ao estancar o esvair-se das águas que lavavam as marcas de uma ou algumas dores em seus olhos, permitiu-se ver a pena suave a esta emoldurada, entalhada por seu mentor ao tornar este um instrumento cujas melodias que guiadas por inspiração, estando este atento ao que alimento seria a estes ao redor, capaz seria de alcançar suas dores afim de cura-las, para o bem do Amor Maior.

      A sua volta um vasto universo de informações, vivências, causas e consequências, dores, sorrisos, decepções de desventuras, e sonhos vividos em bem sucedidos amores, um multiverso de vidas ao entorno do universo seu, para que trazendo ao seu mundo o tema que pairasse a orbitar, permitisse o pouso ou mesmo em pleno voo, de sua breve e inesperada passagem por ali, extraísse de seu teor o suficiente para que de posse desta porção, um bom bocado capaz de alimentar ao que deviria ser direcionada aquela mensagem viesse a compor; fosse este um, ou um a cada momento em que lançada fosse ao debruçar-se a sua cabeceira, ou ao plugar seus fones às fontes audíveis que lhe conectassem àquela foz, quem sabe até em uma pequena ou milionária plateia para ser alcançado pelo teor que lhe estivesse a procura, e assim confortar-se ao saciar suas necessidades d’alma, ao ali encontrar a calma e o prazer que fora buscar.

       Quanto à porta, em uma reforma para ampliar a passagem, fez-se necessário sua retirada e aberta a parede na qual contida estava, e que o separava de quem atrás daquela potencial distanciadora parede viviam, tendo agora acesso ao rico multiverso que lhe alcança e faz compor em textos e canções, o que em nenhum lugar, dos mais profundos abismos aos mais altos montes se pode achar, que o trato e o afago dado somente pelo bem querer que a nós quer alcançar, e agora aguarda apenas que lhe abra a porta, aquele coração que desejar por estes encantos se envolver para receber o amor que primeiro deve dar.

        Sendo um eterno aprendiz do que o amor Maior lhe pode dar a conhecer de sua essência, vivido em resiliência para avante se alçar, cada vez menor e ciente que os versos textos falas que alcancem seu pensar,  a este não pertencerão, mas aos que devem alcançar.

        Seu nome apenas constará em um timbrado documento, como um atestado de qualidade deste instrumento, que a este direcionado será, a autoria do transcrever deste precioso sentimento, que lhe dado foi notar e trazer como fiel arauto, o de agora põe-se ao palco para vidas alcançar.

       Abra sempre este portas, e permita que o amor que lhe acolheu e deu calor, traga a tantos quantos permitidos for, alcançar em suas noites de luar, para lhes ensinar o amor a tantos quantos a esta fontes puderem se achegar.

       E haja paz.

Tito Trugilho, 06 de agosto de 2020.
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